O clube ameaçava ir à Justiça e construtora perdoou um débito de mais de R$ 1 bilhão e reconheceu perdas, mas ainda é necessária confirmação por uma assembleia de acionistas em relação a uma parcela menor da dívida.
O Sport Club Corinthians Paulista — o segundo clube de futebol com maior número de torcedores no Brasil —, realizou em 2014 o seu maior sonho: a construção da Arena Corinthians, conhecida como Itaquerão.
Agora, está muito perto de encerrar um dos pesadelos ligados à obra: a dívida com a construtora Odebrecht.
Mas a história de como tudo acabou ficando tão caro passa por detalhes de luxo, desentendimentos e as mudanças na situação da própria empreiteira, duramente atingida pelas consequências das revelações no âmbito da Operação Lava Jato.
Com capacidade para 46 mil pessoas, o estádio ganhou um acabamento suntuoso, com espelhos d’água, piso de mármore, instalação de televisores nos banheiros e um dos maiores telões de vídeo do mundo, com 170 metros de largura e 20 metros de altura.
O mármore veio da Grécia e da China. Carpetes importados chegaram dos Estados Unidos e as louças sanitárias, do Japão. As portas de ferro utilizadas exibem a grife Hörmann, da Alemanha. Os vidros dos camarotes são italianos.
A grama, cultivada por uma empresa dos Estados Unidos, foi adquirida de um fornecedor irlandês. Pouco resistente ao calor, ela exigiu a instalação de um super equipamento de ar-condicionado. O sistema de resfriamento circula por dutos, por baixo do gramado. Custou R$ 2,8 milhões e consome R$ 1 milhão ao ano com eletricidade.
Esses detalhes de acabamento, que tornaram o estádio mais luxuoso, foram acrescentados ao projeto original por desejo do então vice-presidente de Finanças do clube, Luis Paulo Rosenberg, que sonhava oferecê-lo a potenciais patrocinadores.
O estádio foi inaugurado oficialmente em 18 de maio de 2014, em um jogo entre Corinthians e Figueirense, válido pelo campeonato brasileiro. Os visitantes ganharam por 1 a 0.
No dia 12 de junho, quase um mês depois, a arena seria palco do jogo Brasil e Croácia, na festejada abertura da Copa do Mundo no Brasil.
A torcida ficou extasiada. Quando a conta começou a chegar, no entanto, os números assustaram. Falava-se em uma dívida de R$ 820 milhões e R$ 985 milhões, incluindo os R$ 400 milhões do empréstimo pedido à Caixa Econômica Federal.
Nem os diretores do Corinthians conheciam o valor exato da dívida. No contrato, o custo da obra era R$ 335 milhões, preço fechado, reclamavam os conselheiros do clube. Tempos depois, após cinco aditivos, ninguém sabia o total, com exatidão.
Em agosto do ano passado, o Conselho Deliberativo do Corinthians nomeou uma comissão para levantar o custo da obra. Essa comissão chegou ao valor total de R$ 1,030 bilhão de dívida com a construtora Odebrecht: R$ 985 milhões gastos na obra, mais encargos financeiros.
O Corinthians e a empreiteira concordaram com essa soma. Além de confirmar o valor, a comissão presidida pelo ex-vice-presidente de marketing do clube Edgard Soares — e integrada ainda pelo relator Romeu Tuma Junior, ex-vice-presidente de Esportes, e pelos conselheiros Flavio Capitão e Reginaldo Monteiro — apontou supostos erros e descumprimentos do contrato.
Um anos depois, no entanto, essa dívida enorme praticamente ‘virou pó’. Entende o que aconteceu e como foi a negociação sobre ela, em meio a controvérsias sobre valores, empréstimos e o envolvimento da Odebrecht na operação Lava-Jato.
Negociação
De posse de dados e análises de documentos, os conselheiros sugeriram uma negociação com a Odebrecht. A partir de informações extraídas do contrato inicial e dos cinco aditivos realizados, avaliavam ser possível a diminuição dos valores da dívida atribuída ao Corinthians.
O débito alegado pela Odebrecht, contudo, estava de fato amparado por contratos assinados por três presidentes do clube, desde 2010.
TERRA,COM.BR