Há cinco meses Santa Catarina não sedia espetáculos e eventos culturais com reunião de público. Creches, escolas e universidades só mantêm contato com os estudantes pela internet, salvo aulas práticas. Parques e praias permanecem restritos. Esportes coletivos amadores viraram cavalo de batalha política, mas continuam suspensos.
A gestão errática da pandemia de coronavírus no Estado penaliza demais setores da sociedade já fragilizados. Governo e prefeituras abraçaram a tese de que é possível “conviver com o vírus”. Assim, condenam cultura, educação, lazer e esporte a restrições prolongadas. No abre-fecha vivenciado desde março, são os primeiros a interromper as atividades e os últimos a ter o direito de retomar o trabalho. Por quanto tempo suportarão?
Não que seja seguro promover aglomerações em Santa Catarina. São milhares de casos, internados e mortes. A Covid-19 segue presente e ameaçadora. O problema é que as autoridades prejudicam certos setores para permitir que outros reabram rápido, como comércio, restaurantes, academias, salões de beleza, igrejas. É um sistema que salva quem tem mais poder de pressão. Como disse outro dia o Upiara Boschi, praia e parque não têm lobby.
Segue popular entre os catarinenses a ideia equivocada de que bastaria “achatar a curva” e fazer caber nos leitos de UTI disponíveis as centenas de doentes graves. Não funciona. Primeiro, porque a experiência já mostrou ser impossível controlar a pandemia sem isolamento. Segundo, porque, em média, morrem 20% dos internados em UTIs.
Desde a chegada da pandemia de Covid-19 ao Brasil, sabe-se que não há limiar seguro. O caminho indicado pelas melhores práticas internacionais é suprimir o contágio via isolamento social, para depois testar muito e atacar novos surtos rápido.
Gerou incompreensão por aqui a imagem de um evento com milhares de pessoas em Wuhan, na China. Ou um jogo de rugby com 20 mil espectadores na Nova Zelândia. Pois é. Quem prefere conviver com o vírus não pode sonhar com um luxo desses.
Não surpreende que sejam justamente arte, cultura, conhecimento, lazer e esporte as atividades mais atingidas em Santa Catarina. Num Estado em que a ética do trabalho é tão presente, tem prioridade o que gera riqueza. Quando a situação aperta, a culpa é dos churrascos domésticos, e não dos escritórios com ar-condicionado.
Parece improvável que, meio ano depois, as lideranças de Santa Catarina convençam-se de que não existe atalho nessa crise, mesmo sob intervenção judicial. Com o número de casos em queda, provavelmente provocada pelas medidas restritivas decretadas entre julho e agosto, resgatou-se a sensação de normalidade.
Só existe um cenário possível para que a “estratégia” finalmente comece a funcionar: a hipótese de estarmos à beira dos primeiros benefícios da imunidade de rebanho — quando o número de infectados é tão grande que o vírus encontra dificuldade para multiplicar-se.
Não sendo esse o caso, Santa Catarina só está inaugurando outra volta de uma maratona em círculos.
FONTE: NSCTOTAL