Já virou rotina: todo fim de semana, e não é de agora, festas irregulares ganham destaque negativo no noticiário catarinense pelo desprezo às normas de segurança impostas por uma pandemia que, ao contrário das baladas, não tem hora para acabar. Alheia ao distanciamento e ao uso de máscara, gente aglomerada em boates dança ao som de um ritmo que ignora as mortes, as internações nas UTIs e os altos índices de contágio do novo coronavírus. Esquecem-se, ou fingem que não enxergam, que estão convivendo com uma doença cuja proteção definitiva depende de uma vacina que ainda não se sabe exatamente quando estará disponível para todos.
É natural que as pessoas queiram curtir a vida e pelo menos por algumas horas não pensarem que a Covid-19 é uma ameaça presente e constante. Também é mais do que compreensível o apelo que vem de proprietários de casas de shows – além de uma legião de profissionais que do ramo tiram o sustento – para que possam abrir as portas enquanto praias estão liberadas e praticamente toda a economia do Estado já funciona com “certa normalidade”. Por outro lado, o cinismo de quem tenta justificar o injustificável mancha a imagem de um setor que já registra enormes perdas na pandemia.
Pelas regras estabelecidas pelo governo de Santa Catarina, casas noturnas estão proibidas de abrir onde o mapa de risco para o coronavírus aponta para o nível gravíssimo – caso de 10 das 16 regiões do Estado na última atualização. Os estabelecimentos só têm autorização para funcionar do nível grave – ainda assim com 20% da capacidade de público – para baixo. Até hoje, no entanto, o regramento se mostrou insuficiente para conter abusos.
Flagrada com casa cheia no último fim de semana, uma boate de Blumenau disse à reportagem do Santa que a festa aconteceu porque “o decreto só entraria em vigor no domingo”. Em Balneário Camboriú, uma balada teria restringido a entrada de celulares na sexta-feira passada. Negou que a medida tivesse o objetivo de impedir o registro de possíveis aglomerações e alegou se tratar de uma campanha, um argumento difícil de colar e que subestima a inteligência.
Na cidade do Litoral Norte, aliás, quatro estabelecimentos foram interditados entre a última sexta-feira e a madrugada de domingo. Dois deles, reincidentes, parecem ter entendido que voltar a cometer a infração seria financeiramente mais vantajoso do que pagar uma multa de R$ 5 mil. Muitos desses locais se agarram ao fato de que atuam também como bares e restaurantes, que têm regras de funcionamento mais brandas que as baladas. É um contorcionismo interpretativo que busca dar ares de legalidade às festas, mas que pune aqueles que se preocupam em fazer tudo dentro dos conformes.
Se dos frequentadores desses espaços não é mais possível esperar algum resquício de consciência, deveria partir dos proprietários a preocupação em buscar alternativas e garantir o cumprimento das normas e das autoridades o dever de fiscalização. Concorde-se ou não com elas, as regras foram criadas para dar algum pilar de segurança jurídica ao segmento. Na realidade exibida quase que diariamente nas redes sociais nesta temporada de verão, no entanto, os filtros parecem estar restritos apenas a uma opção de edição de imagens do Instagram.
NSCTOTAL