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Cães treinados usam olfato para diagnóstico precoce do câncer de mama

No dia 4 de fevereiro celebra-se o Dia Mundial do Câncer, que visa aumentar a conscientização sobre a doença e incentivar sua preservação e seu diagnóstico precoce. O Projeto KDOG, uma ferramenta que auxilia médicos e utiliza cães no trabalho de biodetecção precoce de câncer de mama em estágio inicial, foi idealizado pelo Instituto Curie, um centro de pesquisa e tratamento de câncer da França, e chegou ao Brasil em parceria com a Sociedade Franco-Brasileira de Oncologia (SFBO).

O projeto desenvolve uma técnica simples, barata e não invasiva de rastreamento do câncer de mama a partir do olfato de cães treinados. A biodetecção é a utilização de animais ou outros organismos vivos para detectar algo como substâncias ilícitas ou perigosas, agentes patogênicos, entre outras coisas.

O projeto brasileiro, que funciona em Petrópolis, no Rio de Janeiro, formou um cão e treina outros dois para detectarem mais de 40 tipos de câncer de mama em um laboratório. Cones com amostras de odores do corpo humano são oferecidos para que os cachorros cheirem. O método descarta o contato físico entre os animais e as pessoas, para evitar estresse das duas partes.
O protocolo para a obtenção de amostras que serão submetidas aos cães é simples. O projeto recomenda a homens e mulheres lavar as mãos antes de dormir, com sabonete neutro, e colocar compressas entregues em um kit sobre as duas mamas, retirando-as ao acordar, após nova lavagem das mãos com o sabonete neutro. As compressas são colocadas então em um saco e enviadas para o projeto, onde são submetidas ao olfato dos animais no laboratório. Segundo Leandro Lopes, responsável técnico pelo projeto no Brasil, os cães ficarão estáticos em frente à amostra que der positivo para câncer de mama.

Lopes explicou que o câncer é uma modificação biomolecular que vem do corpo humano. Por isso, ela exala cheiro que, muitas vezes, é imperceptível para o homem, mas não para os cães.
— Por meio do cheiro, o cão detecta se é negativo ou positivo. O trabalho de biodetecção tem uma acertabilidade de 91,8%, comprovada cientificamente e seguindo parâmetros do KDOG França — disse.

Ele observou que o trabalho não elimina os protocolos tradicionais para detecção de câncer, como mamografia e outros exames, mas vem para antecipar e tentar colocar as pessoas em uma triagem, para chegar mais rápido ao mamógrafo. Leandro Lopes afirmou que o método pode ajudar, principalmente, populações distantes dos grandes centros, como indígenas e ribeirinhos, além de pessoas carentes, porque consegue criar uma velocidade com qualidade, para que o diagnóstico seja encontrado mais rápido.
— Porque nós sabemos que quanto mais rápido o câncer for diagnosticado, mais chance tem de cura.

Em um futuro próximo, a intenção é disponibilizar o projeto no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS).
— É o nosso grande sonho e desejo que isso aconteça. A gente conseguiria ajudar o SUS a ter um controle maior e maior velocidade no diagnóstico — contou o responsável pelo projeto no Brasil.

Os cães deverão concluir 100% do treinamento previsto no primeiro semestre de 2021. Quando começarem a dar suporte ao SUS, ajudarão a população mais pobre a ter acesso a exames, como o de mamografia. Lopes esclareceu que o cachorro consegue sentir o cheiro do câncer antes de o tumor aparecer.
— Por isso, é um processo de triagem. O cão sentiu o cheiro, deu positivo, aquela mulher entra em uma fila de mais atenção. O projeto é aplicável também para pessoas que já tiveram câncer de mama, direcionando-as para a fila de atenção, caso um novo tumor seja detectado.

A estrutura montada prevê o treinamento de seis cães desde filhotes. Devido ao seu cônico olfativo, com muitos receptores de cheiros, os pastores alemães, belgas ou holandeses têm a preferência para esse trabalho de rastreamento precoce do câncer de mama por meio dos odores. Leandro Lopes lembrou, entretanto, que outras raças têm sido aprovadas no mundo, como o braco alemão, também conhecido como perdigueiro, e o jack russel, porque são ligadas à rusticidade.
Apesar disso, Lopes afirmou que os cães do projeto são animais felizes, que não se desgastam nem ficam presos. São vacinados, vermifugados e fazem exames de sangue semestrais.
— Não são cães robotizados, não são cães de laboratório. São cães felizes que, na hora de desconcentração, estão brincando com bolinhas, se esfregando na grama. São nossos amigos.

Os animais trabalham com sistema de recompensa. Encontrando o odor de câncer, ganham petiscos ou brinquedos. O projeto no Brasil conta com patrocínio oficial da marca de ração Royal Canin.

Fonte: NSC Total