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Por que a onda de calor em SC é inimiga no combate à Covid-19

O calorão que se estende por toda Santa Catarina neste mês de janeiro é um convite à praia, mas também pode se tornar um inimigo indesejável no combate à Covid-19 em meio à disparada do número de casos ativos da doença.
A quentura joga contra por dois motivos. Primeiro: com o calor intenso, a máscara, um dos mais básicos protocolos para frear a transmissão do vírus, vira um incômodo, ainda mais ao ar livre, onde o item já não é mais obrigatório no Estado. Se antes já era comum ver o acessório de proteção usado de forma errada, no queixo e destampando o nariz, agora ele está sumindo do rosto das pessoas.

Segundo ponto: para fugir de temperaturas que beiram os 40°C, com sensações térmicas inclusive superiores, muita gente tem se refugiado em ambientes refrigerados. O ar-condicionado é aliado de primeira hora para aliviar o bafo quente que vem da rua, mas ligado em locais que permanecem muito tempo fechados impede a circulação do ar, concentrando partículas do vírus.
Especialistas consultados pela coluna concordam que essas duas situações, sobretudo à ligada ao ar-condicionado, são obstáculos nos esforços para reduzir a velocidade do contágio.
— Se você quer estabelecer segurança no seu ambiente de trabalho, na sua casa ou na escola, a ventilação é tudo. A gente aprendeu que é um vírus que se propaga pelo ar, com partículas virais que ficam horas no ar. Em um local não ventilado você nem precisa ter contato com o paciente. Basta o paciente ter passado por lá, falado, soltado o vírus dentro do ambiente — alerta o infectologista Amaury Mielle.

O também infectologista Ricardo Freitas, que atua como médico na rede pública de Blumenau, acrescenta um agravante. Estudos já mostraram que a variante ômicron, predominante no momento, é muito mais contagiosa do que as anteriores.
— A gente fala da questão de lavagem de mãos, uso de máscara. Mas para a variante ômicron basta um segundo de bobeira. É quase impossível ser rigoroso 24 horas por dia — admite o especialista.

A orientação não muda, embora nunca é demais reforçar: máscara, lavagem de mãos e distanciamento seguro seguem sendo imprescindíveis. O ar-condicionado não precisa ser abolido – nem tem como nesse calorão –, mas abrir as janelas durante períodos do dia para permitir a circulação do ar também é indispensável.
Embora ainda não se tenha clareza de quando essa nova onda deve arrefecer por aqui, há uma notícia alentadora. Apesar de alto, o número de casos ativos não tem respingado na ocupação de hospitais, ao menos por enquanto.

Em Blumenau, segundo boletim divulgado nesta quarta-feira (19) pela prefeitura, havia 6.294 pacientes em tratamento – ou seja, que positivaram para a doença. Destes, 6.274, o equivalente a 99,7%, estavam se recuperando em casa, com sintomas leves. Havia apenas 14 pessoas na enfermaria e seis internadas em UTI.
A Secretaria de Saúde tem tratado a doença provocada pela ômicron como uma situação ambulatorial, já que a variante é menos agressiva e atinge menos o sistema respiratório. Além disso, também credita os baixos números de hospitalizações à cobertura vacinal, que já contempla 73% da população com ao menos duas doses.

Mesmo com o ambiente hospitalar relativamente tranquilo por ora, não há motivos para relaxar, alerta Mielle. O infectologista lembra que outros países que sofreram surtos da ômicron, como Estados Unidos e Reino Unido, tiveram alta nas internações.
Ainda é cedo, complementa ele, para saber qual o grau de proteção conferido pela variante. Por isso, testagem, que enfrenta o desafio da falta de exames, e vacinação seguem sendo a melhor estratégia.
— A gente tem que considerar hoje que vacinação completa não é mais duas doses, e sim três. É esse número que a gente tem que trabalhar — pondera o médico.

FONTE: NSCTOTAL