
Por Custódio Pereira
Em 2020, o capitão Tom Moore, veterano da Segunda Guerra Mundial, completou 100 voltas em seu jardim antes de seu 100º aniversário. O esforço tinha uma grande causa: arrecadar fundos para o NHS Charities Together, instituição com sede no Reino Unido que apoia o trabalho do Serviço Nacional de Saúde. Além de levantar quase 33 milhões de libras esterlinas para o combate ao Covid-19, Sir Tom Moore encheu o país de esperança com a frase “Amanhã será um bom dia”.
Historicamente, situações emergenciais tendem a aumentar a mobilização em prol de uma causa. Mas, de forma geral, o brasileiro é solidário? De acordo com o mais recente Ranking de Solidariedade, produzido pela Charities Aid Foundation (CAF), o Brasil está entre os 20 países mais solidários do mundo, saltando da posição 54º para a 18° no último ano. O crescimento aconteceu em todas as categorias avaliadas, mas na “ajuda a um desconhecido” o brasileiro subiu da posição 36° para o 11° lugar.
Diante dessa boa notícia, é importante que as organizações do terceiro setor aproveitem a onda solidária que vem aumentando desde a pandemia pelo coronavírus para alavancar a prospecção de novos doadores. O maior desafio continua sendo convencer as pessoas a investir em uma causa diante de tanta concorrência. A nova atualização do Mapa das Organizações da Sociedade Civil, ou Mapa das OSCs, iniciativa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), identificou 815.676 ONGs no país até 2020. Como instituições do terceiro setor, dependemos do apoio da sociedade para ampliar o alcance dos nossos serviços e atender mais pessoas que precisam. Para muitas organizações, a captação de recursos é questão de sobrevivência.
Sabemos que os desafios são enormes. Estudo realizado pelo Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social (IDIS) em 2015, mostra que 87% dos doadores não acham que se deve falar sobre doação, e ainda existe uma cultura baseada em caridade. Para completar, o Brasil ainda tem uma legislação que não beneficia o doador.
Durante cursos e palestras sobre o tema, sempre reforço que se soubermos pedir, as pessoas estarão dispostas a doar. Para isso, é fundamental que a instituição tenha credibilidade e invista em transparência, comunicação e tecnologia. E o mais importante: o departamento de captação de recursos não é toda a organização, mas toda a organização é o departamento de captação de recursos. Engajar os colaboradores em prol da causa é o passo número um para um projeto bem-sucedido.
Por último, vale reforçar a necessidade da profissionalização do setor. Ainda temos uma discrepância enorme em nossas entidades, algumas com departamentos estruturados de captação e a maioria ainda tentando organizar as atividades. Diante das especificidades da legislação brasileira e a resistência da sociedade em contribuir com a nossa causa, precisamos investir na formação de profissionais com as habilidades e competências necessárias para o trabalho.
* Presidente do Fórum Nacional das Instituições Filantrópicas (Fonif), autor do livro “Sustentabilidade e Captação de Recursos na Educação Superior no Brasil”. Professor do curso “Fundraising – Captação de Recursos para Organizações sem Fins de Lucro e Filantrópicas”, uma parceria do Fonif, do Semesp e da ANEC.