
O mercado de franquias no Brasil tem atraído cada vez mais pessoas que buscam empreender com mais segurança, apoiadas pela força de marcas consolidadas. As projeções de faturamento, campanhas publicitárias e apresentações gráficas repletas de números milionários formam um cenário sedutor para quem deseja deixar o emprego convencional e investir em um negócio próprio. Mas, por trás dessa promessa, existe uma camada mais profunda — muitas vezes ignorada — que determina o verdadeiro sucesso ou fracasso de uma franquia: o alinhamento entre o perfil do franqueado e a realidade da gestão empresarial.
A experiência tem mostrado que gostar de consumir um produto não significa, necessariamente, que se gostaria de gerenciar um negócio que o oferece. Aquele que ama frequentar cafeterias pode confundir sua paixão pelo ambiente com o desejo de ter uma, sem perceber que o prazer de tomar um bom café não é o mesmo que administrar fornecedores, gerir colaboradores ou lidar com fluxos financeiros diários.
O inconsciente humano, especialmente quando exposto a gatilhos emocionais como status, projeções de lucro ou identificação com a marca, pode tornar nebulosa a tomada de decisão, afastando a pessoa de uma avaliação racional sobre o que realmente a motiva. Esse processo psicológico pode ser ainda mais forte quando envolve desejos reprimidos ou não atendidos na infância — como o sonho de ter algo que simbolize sucesso social ou a necessidade de provar competência aos outros.
O que muitos não percebem é que uma franquia não é apenas um investimento financeiro — é, antes de tudo, um investimento emocional. A gestão diária exige habilidades que vão muito além da paixão pelo produto ou pelo conceito da marca. Requer disciplina, resiliência e, sobretudo, alinhamento entre os desejos conscientes e as necessidades inconscientes do indivíduo.
Tomar a decisão de abrir uma franquia sem investigar o próprio comportamento inconsciente pode levar a frustrações profundas, desistências prematuras e até ao fechamento do negócio. O dinheiro investido não compra a satisfação que só pode ser encontrada quando o empreendedor está em sintonia com sua essência.
Por isso, antes de se deixar seduzir pelas projeções de faturamento e pelas imagens bem construídas dos anúncios, é essencial olhar para dentro. Entender se o que está impulsionando a decisão é uma vontade genuína de empreender naquele segmento — ou se é apenas uma tentativa de preencher um vazio emocional criado por experiências da primeira ou segunda infância.
A verdadeira mentalidade de franchising começa no autoconhecimento. Porque abrir uma franquia não é apenas adquirir um negócio — é, acima de tudo, adquirir um novo papel na própria história de vida.
Jean Carlo Cardozo
Especialista Neuro psicanálise e psicodinâmica do autoconhecimento
Especialista em franquias e negócios com mais de 15 anos de experiencia