

Por José M. Vieira – 08/09/2025
As manifestações de 7 de setembro realizadas em várias capitais brasileiras neste ano chamaram a atenção da imprensa internacional, em especial do jornal norte-americano The New York Times (NYT), que dedicou uma longa reportagem ao evento.
De acordo com o NYT, as ruas foram dominadas por apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro, que superaram significativamente o número de manifestantes da esquerda.
A cobertura descreveu cenas de São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília, onde avenidas foram tomadas por camisas amarelas, bandeiras e faixas nas cores nacionais. Muitos participantes exibiram cartazes escritos em inglês e até símbolos dos Estados Unidos.
No clima que mesclava festa cívica e descontentamento com o uso político do Supremo Tribunal Federal, as manifestações reuniram famílias, líderes religiosos e políticos aliados. Discursos inflamados, como o do Pastor Silas Malafaia, marcaram os atos.
Por outro lado, a comoção tomou conta durante o discurso da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro, que relatou a realidade vivida por Jair Bolsonaro – que além de conviver com a sequela de uma facada que sofreu durante o processo eleitoral de 2018 -, está utilizando tornozeleira eletrônica e tendo sua casa vigiada 24h por dia pela Polícia Federal.
Na oportunidade, a ex-primeira-dama relatou que tem sido impedida de realizar cultos religiosos em sua casa, por conta das restrições contra o ex-presidente impostas por Alexandre de Moraes.
Manifestações em Santa Catarina
Em Santa Catarina, considerado o estado mais bolsonarista do Brasil, o 7 de setembro foi marcado por manifestações massivas em apoio a Jair Bolsonaro. Vestidos de verde e amarelo, milhares de apoiadores ocuparam ruas de diversas cidades pelo estado.


As bandeiras do Brasil dividiram espaço com as de Israel e Estados Unidos, enquanto o coro de “Volta, Bolsonaro” ecoava nas principais avenidas. Em Florianópolis, a concentração começou às 10h na Beira-Mar Norte, seguindo até a Praça XV de Novembro, no Centro.
Entre os nomes de peso que marcaram presença, estavam o governador Jorginho Mello (PL), o vereador de Balneário Camboriú Renan Bolsonaro (PL), o vereador do Rio de Janeiro e pré-candidato ao Senado por Santa Catarina, Carlos Bolsonaro (PL), o prefeito de Florianópolis, Topázio Neto (PSD), e o vereador mais jovem da história de Florianópolis, Ingo Câmara (PL).

O ato catarinense neste 7 de setembro, reforça o peso de Santa Catarina como reduto fiel ao bolsonarismo. A força política demonstrada nas ruas, ocorre em momento delicado da história do Brasil, com um poder judiciário que extrapolou o direito acusatório, atuando como partido de oposição a Jair Bolsonaro.
Ativismo Judicial (Lawfare)
O ativismo judicial, traduzido do termo “Lawfare”, tornou-se um dos temas mais polêmicos e discutidos no cenário jurídico e político. A ideia central está no uso instrumentalizado da lei e das instituições do Judiciário não como meio imparcial de garantir a aplicação do direito, mas como ferramenta de perseguição política, de imposição ideológica ou até mesmo de controle social.

Nesse contexto, surgem exemplos de que determinadas condutas e declarações de ministros da mais alta corte do país extrapolam todos os limites da imparcialidade, colocando em xeque a legitimidade das decisões judiciais e alimentando a percepção cada vez maior de que a justiça tem se tornado um campo de disputas políticas.
Nesse sentido, o art. 95, parágrafo único inciso III da Constituição Federal de 1988, veda, aos juízes, dedicar-se a atividade político partidária. A proibição também consta no art. 7º do Código de Ética da Magistratura Nacional e no art. 4º, inciso II da Resolução nº 305/2019 do Conselho Nacional de Justiça (CNJ).
Entretanto, frases como “nós derrotamos o bolsonarismo”, “no Maranhão eleição não se ganha, se toma” “perdeu mané, não amola” – todas do ministro Luís Roberto Barroso -, “Bolsonaro é pior do que o próprio demônio” – de Flávio Dino, antes de virar ministro, “somos admiradores do governo de Xi Jinping” – de Gilmar Mendes em sessão plenária do STF, foram todas ditas publicamente por ministros do Supremo Tribunal Federal.
Não bastasse isso, devemos lembrar dos atos de censura prévia e banimento contra jornalistas independentes – como ocorreu com Rodrigo Constantino, além do caso de Paulo Figueiredo, que teve contas bloqueadas e passaporte brasileiro apreendido sem que tenha ocorrido citação válida e acesso a qualquer processo judicial.
Estes atos evidenciam que, justamente aqueles que deveriam proteger as leis e a constituição, são seus maiores violadores. Nesse caso, “conceito de democracia é relativo” a quem fala, e não ao que é falado. São dois pesos e duas medidas.
“O Grito dos excluídos”
Já o retrato da popularidade do atual governo se fez presente nas manifestações do outro lado do espectro político e confirmaram uma realidade já percebida nos últimos anos: a esquerda perdeu as ruas. O contraste entre a grandiosidade das datas cívicas e a baixa adesão popular registrada nas ruas, evidencia o fracasso do governo Lula em se comunicar com a população.

A cena foi marcada por espaços vazios e aglomerações concentradas apenas em pontos específicos, sem a presença massiva da população, que não compareceu, pois estava na Avenida Paulista. Balões, faixas e carros de som não foram suficientes para disfarçar a falta de engajamento popular da esquerda.
Enquanto a data patriótica levou milhares de famílias a demonstrarem apoio às pautas conservadoras, o campo progressista mostrou que já não fala a mesma língua do povo comum. O discurso ideológico parece ter se distanciado das preocupações da sociedade, como segurança e custo de vida.


No entanto, a ausência da esquerda nas ruas não significa a sua extinção política. Pelo contrário: seu espaço de atuação permanece em campos estratégicos. Além da articulação dentro do Congresso Nacional, a universidade, os centros acadêmicos, as entidades de classe e a maior parte das redações de jornais, permanecem fortemente influenciados pela ideologia esquerdista. É nesses ambientes, menos visíveis ao grande público, que a esquerda continua a formar militância e pautar narrativas.
O 7 de Setembro, portanto, expôs uma contradição: enquanto a direita ocupa as ruas com força popular, a esquerda se mantém atuante nos bastidores, influenciando mentes e consolidando sua presença em espaços de decisão e de formação de opinião.
Dito isso, a grande pergunta que fica é a seguinte: como que a esquerda tem feito para conseguir se manter no poder apesar da baixa adesão da população? Deve ser porque “o conceito de democracia é relativo”.

José M. Vieira
Advogado
@josemvieirasc