Fórum Climático definiu previsão para o trimestre entre dezembro e fevereiro; volumes de chuva devem diminuir com a chegada da estação mais quente do ano
Santa Catarina deve vivenciar em breve uma mudança de padrão no tempo. O Estado terá uma trégua das consequências do El Niño, com o volume de chuvas voltando ao normal com o passar das semanas. Se a previsão se confirmar, ao longo de dezembro as precipitações ficam menos regulares e o verão chega com as características habituais da estação: muito calor e trovoadas pontuais.
Nesta semana, meteorologistas catarinenses de diversos órgãos públicos e instituições de ensino se reuniram para definir as previsões do próximo trimestre. Para o Fórum Climático, os modelos indicam que Santa Catarina ainda terá chuva acima da média em dezembro (principalmente em regiões perto do Rio Grande do Sul), mas com menos intensidade que o observado em outubro e novembro.
Além disso, com a proximidade do verão, a chuva não fica tão “organizada” como durante a primavera. Isso significa que ela deve cair de maneira mais irregular e em pontos isolados. No auge do verão, a sombra dos dias chuvosos registrados nas últimas semanas deve ficar para trás.
Segundo as análises feitas pelos meteorologistas do Fórum Climático, janeiro e fevereiro serão meses que consolidarão essa mudança. O volume de chuva deve ficar perto da normalidade e talvez até abaixo da média em regiões próximas ao Paraná.
Pico do El Niño x pico do El Niño em SC
A previsão chama a atenção por contrastar com um fato curioso. O El Niño, que influenciou na alta quantidade de chuvas no Estado nos últimos meses, estará no pico do ciclo dele durante o verão, com as águas do Oceano Pacífico ainda mais aquecidas. Mesmo assim, ele não terá o mesmo impacto em Santa Catarina quanto teve durante a primavera.
Isso ocorre, explica a doutora em Meteorologia e pesquisadora sobre o tema, Alice Grimm, porque a temperatura mais quente nessa região do oceano não é o único fator que importa.
— Novembro é uma dose dura [para Santa Catarina em relação ao El Niño], mas o impacto muda conforme as estações por causa da variação do estado da atmosfera ao longo do ano — detalha a cientista.
É como se, durante a primavera, as perturbações na atmosfera “facilitassem” a atuação do El Niño no Sul do Brasil. No verão, o comportamento no céu muda devido às características da estação e “enfraquece” o El Niño no Estado. É por isso que, quando se fala em impactos, o pior período para Santa Catarina é a primavera, principalmente em outubro e novembro, como mostram os estudos.
— De dezembro para janeiro se espera uma suavização do impacto do El Niño. A interferência não some, mas fica mais fraca, com chuva mais próxima do que normalmente é.
El Niño até abril?
São pesquisas acadêmicas e tecnologias que leem os movimentos da atmosfera e do oceano que norteiam as projeções para os próximos meses. O El Niño deste ano tem características semelhantes ao de 2015, quando também houve um fenômeno de intensidade forte. Se o padrão continuar, a tendência é que ele perca força no outono de 2024, cita Alice.
No entanto, ainda não é possível ter certeza em que mês exatamente isso acontecerá e se de fato ele acabará — e a temperatura do oceano voltará ao normal — ou apenas ficará mais fraco.
E a temperatura?
Conforme o Fórum Climático, a temperatura deve ficar acima da média no próximo trimestre, especialmente em fevereiro. Ondas de calor, comuns no verão, também não são descartadas, ainda que neste momento não seja possível prever quantas e a intensidade delas.
O que é o El ninõ?
Segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), o El Niño é o nome dado ao aumento na temperatura da superfície da água no Oceano Pacífico, fazendo ela evaporar mais rápido. O ar quente sobe para a atmosfera, levando umidade e formando uma grande quantidade de nuvens carregadas.
Com isso, no meio do Pacífico chove mais, afetando a região Sul do Brasil, pois a circulação dos ventos em grande escala, causada pelo El Niño, também interfere em outro padrão de circulação de ventos na direção norte-sul e essa interferência age como uma barreira, impedindo que as frentes frias, que chegam pelo Hemisfério Sul, avancem pelo país. Logo, elas ficam concentradas por mais tempo na região Sul.